Era uma vez um belo pote de barro modelado segundo um design exclusivo pelas mãos de um habilidoso ceramista. Em função de seu tamanho, contornos e acabamento especiais, este pote era útil para abrigar uma planta florida ou o cultivo de cebolinha e salsinha, servir como recipiente para guardar pequenos objetos avulsos de jardinagem e pacotinhos de sementes, ou ainda para segurar uma coleção de canetas de pé na estante. Chegou até a ser usado, juntamente com outras peças de cerâmica, na composição de uma foto para um livro de arte.
Certa vez, uma tempestade violenta passou pela cidade, e o vaso, que na época continha Lathyrus odoratus e estava em uma mureta do jardim que acompanhava a calçada, foi duramente castigada. O vento fez com que caísse por cima de umas grandes pedras ornamentais e o pote se partiu em muitos pedaços. Na manhã seguinte à procela, quando fez a limpeza do jardim, o jardineiro coletou os destroços da plantinha para replantá-la, mas os cacos do pote tiveram de ir para o lixo...
Na manhã seguinte, o artesão colocou a peça na mesa, inclinou-se um pouco para trás para avaliar melhor o seu trabalho, e deu um suspiro feliz de satisfação. Agora o pote mais parecia uma jarra, e conforme chegavam os primeiros sinais do novo dia, dava para perceber que a soma final dos cacos produzira um objeto um pouco maior, com outros contornos... Ainda lembravam o pote original, mas agora seria mais útil, pois além de acolher terra, plantinhas, flores e canetas, também serviria para dispensar líquidos, fluidos... como água ou azeite, por exemplo. Os raios nascentes incidiam sobre as emendas, e depois de alguns momentos de observação, era possível notar que um lindo desenho se formara entre os cacos e suas “cicatrizes”... parecia até uma renda caríssima! À medida que a luminosidade aumentava no ateliê, as emendas brilhavam cada vez mais. O ceramista resolveu preparar uma variação de sua fórmula secreta que ficasse líquida, mais fluida, para que aquela substância brilhante pudesse ser distribuída mais amplamente. Soprou para dentro da jarra, e ela se encheu, encheu, até transbordar... fulgente, multicolorida, parecendo um cristal líquido que refletia o largo sorriso do Grande Criador.
“Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo. Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. 2 Coríntios 4:6-7